Réplica - Saindo da Matrix

Artigo-Réplica ao artigo de Acid Zero, na página “Saindo da Matrix”. O Artigo é intitulado “O Contexto da Ayahuasca”, e se pretende “esclarecedor” deste contexto, um esclarecimento de uma pessoa que certamente não conhece o contexto.

Vou copiar os parágrafos dele (em negrito) e abaixo vêm meus comentários.


• No último dia 12 o Brasil perdeu tragicamente um de seus maiores cartunistas, Glauco, assassinado juntamente com seu filho, Raoni, por um usuário de drogas ilícitas, "entusiasta" da Ayahuasca e, consequentemente, da Igreja que Glauco havia fundado, ligada ao Santo Daime e que ficava em sua casa.

Não poderia estar mais abalado com a notícia e, mesmo após alguns dias, ainda não me recuperei. Cresci lendo esse cara em revistas, tirinhas e charges de jornais. Ele, Angeli, Laerte e Aragonés são minha referência de humor inteligente nos quadrinhos. É pra evitar coisas assim que gostaria de partilhar meus pensamentos, no sentido de esclarecer (não combater, nem condenar, ou procurar culpados) pessoas no uso de certas substâncias para o auto-conhecimento.

Este artigo já começa muito mal. Primeiro, esta pessoa que se diz tão amante de Glauco, certamente não sabe maiores detalhes da vida do mesmo, e se coloca numa posição de “defensor” de Glauco, esquecendo-se de que este mesmo Glauco passou anos de sua vida se dedicando ao trabalho com Ayahuasca, por acreditar nisso, e atendia a centenas de pessoas em seu centro, e que tentar responsabilizar equivocadamente a ayahuasca pelo que houve é ofender a memória de Glauco. Segundo, se referir ao assassino como “entusiasta” de ayahuasca, é distorcer, grosseiramente os FATOS. OS FATOS nos mostram que esse rapaz tinha problemas psiquiátricos na família, que era usuário de drogas desde os 15 anos, que estava sem aparecer no centro há mais de seis meses, que não havia usado ayahuasca no dia ou nos meses anteriores ao crime. Então senhor ACID (já que não temos o privilégio de saber quem, a brilhante mente que está por trás deste curioso apelidinho, que por si mesmo, já é uma “droga”), que bom que o senhor não é jornalista, pois sua imparcialidade ao tentar estabelecer contextos já começa muito fraca. Glauco e seu filho Raoni sim eram entusiastas da ayahuasca. Respeite-os. Que base o senhor tem pra dizer que vai “esclarecer” alguém sobre este assunto? A sua opinião? Ah sim, então que fique claro que a sua é mais uma entre as opiniões.

Carlos Castañeda é bastante conhecido do público "alternativo". Ele usou por bastante tempo o alucinógeno Peiote, guiado por seu Shaman, Don Juan. As pessoas descompromissadas com a espiritualidade lêem o que interessa e descartam o que não interessa, e assim justificam suas experiências "místicas" com drogas (lícitas ou não) como uma busca espiritual. E param na busca. Eterna busca, porque em algum ponto esquecem o que estão buscando (se é que algum dia souberam) e ficam apenas nas drogas.

Castaneda não é conhecido apenas pelo público “alternativo”, mas é estudado pelas melhores universidades do mundo. Vc diz que as pessoas lêem o que interessa e descartam o resto, e foi exatamente o que o senhor mesmo fez, ao citar a seguir um trecho da entrevista de Sam Keen. Aconselho que as pessoas leiam a entrevista na integra e verão que a coisa é um pouquinho diferente, na página oficial do entrevistador. Eu mesmo li a obra completa de Carlos Castaneda e ele, ao longo dos livros, esclarece e muito bem os motivos da necessidade da utilização do peiote dentro daquele contexto. A ayahuasca, assim como o peiote, são consideradas substâncias mestras, pela forma de ação na consciência. Pessoas irresponsáveis, que usam o que não sabem, existem, não só nos rituais xamânicos, mas também nas clínicas de psicanálise receitando remedinhos anti-deprê, ou em blogs, dando uma de autoridade em assuntos alheios. Assim como pessoas responsáveis também existem. Existem pessoas que realmente justificam as coisas sem saber de fato justificá-las, porque estão mal informadas e/ou com intenções escusas. Mas, senhor acid, nada lhe dá o direito de generalizar, assim como não podemos dizer que todos os evangélicos enfiam dinheiro na cueca somente porque um filho de pastor fez isso aqui num escândalo no governo do distrito federal. Dizer que as pessoas “param na busca”... Em que informação o senhor baseia isso? Por um acaso o senhor sabe do crescimento das igrejas sérias que usam a ayahuasca? Talvez o senhor esteja mais conectado com informações a respeito da necessidade de clientela por parte de analistas e terapeutas que estão muito chateados com quem faz bom uso da ayahuasca, porque assim perdem seus preciosos clientes, e seu precioso público de palestras. É muito atrevimento o senhor achar que pode falar pelos milhares de pessoas que utilizam a ayahuasca. O que lhe falta, além de discernimento e informação, é bom senso.

Mas, vejamos o que Castañeda (e Don Juan) pensam disso, nessa entrevista: Sam Keen: Em seu livro mais recente, "Viagem a Ixtlan", você revê a impressão dada nos primeiros livros de que o uso de plantas psicotrópicas era o método principal usado por Don Juan no intuito de ensiná-lo sobre a feitiçaria. Como você vê agora o lugar dos psicotrópicos em seus ensinamentos? Carlos Castaneda: Don Juan usou plantas psicotrópicas no período intermediário do meu aprendizado porque eu era muito estúpido, sofisticado e arrogante. Eu me agarrava à minha descrição do mundo como se ela fosse a única verdade. Os psicotrópicos criaram um vácuo no meu sistema de interpretações. Eles destruíram minha certeza dogmática. Mas eu paguei um enorme preço. Quando a cola que segurava meu mundo unido foi dissolvida, meu corpo estava fraco e eu demorei meses para me recuperar. Eu fiquei ansioso e funcionava a um nível muito baixo.

Sam Keen: Don Juan usa drogas psicotrópicas regularmente para parar o mundo?

Carlos Castaneda: Não. Ele pode agora mesmo pará-lo com a sua vontade. Ele me disse que para mim a tentativa de ver sem a ajuda das plantas seria inútil. Mas se eu me comportasse como um guerreiro e assumisse a responsabilidade não precisaria delas; elas apenas enfraqueceriam meu corpo.
E completa, mais à frente:

Carlos Castaneda: É este elemento de compromisso com o mundo que me mantém seguindo o caminho que Don Juan me mostrou. Não há necessidade de transcender o mundo. Tudo o que você precisa saber está aqui defronte nós, se prestarmos atenção. Se você entrar num estado de realidade extraordinária, como faz quando usa plantas psicotrópicas, está apenas usando a força que precisa para ver o caráter milagroso da realidade ordinária. Para mim o modo se viver o caminho com coração não é introspectivo ou de transcendência mística, mas a presença no mundo. Este mundo é o campo de caçada do guerreiro. Sem mais, meritíssimo.

Então, gostaria de saber a que meritíssimo o senhor serve, porque Castaneda neste trecho está deixando sim, muito claro, que a utilização destas plantas não é brincadeira, e não é para qualquer pessoa. Elas o deixaram fraco (por ele mesmo ser uma pessoa fraca, como ele mesmo relata), mas funcionaram perfeitamente dentro daquele contexto. Ele diz isto, e ainda assim, em NENHUM momento afirma que elas foram inúteis ou desnecessárias ao seu processo de purificação pessoal.

A ayahuasca não é aguinha com açúcar, senhor Acid. Ela é uma alquimia sagrada, utilizada por 4000 anos pelos povos incas, e não é surpresa alguma que o senhor não saiba que quem utiliza corretamente a ayahuasca transcende sim os conceitos que tem do mundo, mas permanece cada vez mais conectada a pacha mama, a terra, as pessoas, a sua missão na terra. Se o senhor acha que as pessoas sérias estão procurando a ayahuasca pra ter uma “viagem transcendental”, terá uma enorme surpresa, pois vai descobrir que não é por ai. A ayahuasca é de difícil utilização sim, não é para qualquer um, e não é para qualquer situação, mas é um poderoso aliado de pessoas que querem buscar, na profundidade, uma via de contato com o sutil. Agora, certamente não é o senhor, uma pessoa que apresenta um opinião tendenciosa e desinformada neste assunto, que pode estabelecer o real contexto de utilização.

Tenho certeza de que qualquer droga, se ingerida num contexto SÉRIO espiritual, pode ser direcionada para o bem, para a evolução. Por exemplo, o café. Digamos que eu faça um ritual do café, com todo um suporte físico (cânticos, incensos, templos) e psicológico, e só o ingira neste dado contexto psíquico e social. Pronto: a cafeína irá atuar de forma a potencializar meu lado espiritual. Acontece que nós tomamos café no escritório, no trabalho, pra "relaxar" (muito embora seja um estimulante, eu tomo pra relaxar) ou pra ficar acordado pro estudar a noite toda. Temos uma cultura do café JÁ estabelecida. A diferença aqui é o CONTEXTO.

E esta sua certeza de que “qualquer droga” se ingerida trará benefícios, vem de onde? De onde vem essa sua CERTEZA? Esta sua afirmação só mostra que o senhor desconhece profundamente o CONTEXTO. Drogas como o LSD, a cocaína ou a maconha causam dependência química, física, psicológica, causam danos imensos, alimentam um mundo de violência e crimes. A ayahuasca não causa dependência, é legalizada, é usada em contexto religioso, e se não me acredita, saiba que a comissão interdisciplinar do Conselho Nacional Anti-drogas deu seu parecer favorável a liberação desta substância por analisar os aspectos químicos, biológicos, sócio-culturais da utilização por 18 anos! Portanto a sua premissa de que “qualquer droga” faz bem é que é generalizante e equivocada. Se o senhor não sabe a diferença entre o café e a ayahuasca, é porque, de fato, o senhor não sabe absolutamente nada a respeito. Vamos fazer o seguinte? Beba seu café, e deixe a ayahuasca para quem sabe e quer vive-la.

Em nossa sociedade, as pessoas assassinam as outras porque dirigem embriagadas, e todos acham que é “normal” beber. Milhares de pessoas morrem por conta do cigarro, e muitos acham até charmoso fumar, uma substância que, sinceramente, não tem sequer um motivo benéfico para se sustentar. Agora a ayahuasca, que é liberada pelo nosso governo, cuja utilização foi causa de luta judicial entre a UDV (União do Vegetal) e o governo norte-americano (a UDV ganhou o direito de usar ayahuasca em seus rituais nos EUA por decisão da Suprema Corte norte americana), que vem causando imensos benefícios no trato de diversas doenças, físicas e psicológicas, cujas pessoas, em sua maioria, quando a usam, procuram ter uma vida mais harmoniosa, consciente de seu papel em nossa sociedade e no mundo... Esta sim causa um graaande alarde. E sabe por quê? Porque diferentemente destas substâncias lícitas e verdadeiramente assassinas, ela mexe com padrões de consciência. Com nossa capacidade de ver melhor nosso mundo e nosso semelhante, e de ver melhor coisas que nos fazem muito mal. Assim, isso causa um prejuízo a industria farmacêutica em diversos níveis, e claro, mantém mais vazios os consultórios de todo tipo de parasita. Incrível como estes aspectos tem sido convenientemente deixados de lado pelos “bastiões” da verdade, sobre os reais interesses por trás desta difamação absurda que as igrejas ayahuasqueiras vêm sofrendo.

Qual o contexto do Daime, hoje?Além das pessoas que se devotam à causa, e que são sérias, honradas, compromissadas com os rituais e com a doutrina (e que existem nas mais diversas religiões), temos os aventureiros de fim-de-semana, que são jovens, sem compromisso com NADA, sem bagagem espiritual e, muitas vezes, com larga experiência em drogas ilícitas.

Uma ida ao perfil do Orkut do estudante assassino de Glauco nos mostra as comunidades que ele visitava vi várias comunidades de Daime e Ayahuasca, no meio de outras, como "Joselitos do meu Brasil", "Surtados", "Laricas", "Bob Marley", "Fuck the police" e... "Mahatma Gandhi" (?). Uma das comunidades de Daime listadas chamava abertamente, logo em sua descrição, todos os irmãos pra uma "celebração", como se fosse uma Rave (ah, o assassino também participava da comunidade "Raves"). Estariam o Gandhi, Bob Marley e as Raves condenadas por fazerem parte do mundo de um assassino surtado? Não. Muito menos o Daime. Mas a listagem de comunidades nos dá um vislumbre de por onde sua mente transita, seu consciente. Dar o diagnóstico de "bipolar" a esse indivíduo só por olhar as comunidades seria leviano, mas ao analisar os relatos de que ele pretendia levar Glauco (sob tortura) para a sua mãe, para que ele dissesse a ela que ele (o assassino) era Jesus Cristo (!), e logo depois atirar em Glauco e seu filho, começamos a ter um vislumbre maior do quadro, não acham?

Então, senhor acid, estas pessoas que usam a ayahuasca seriamente não podem ser manchadas pelas pessoas que não têm responsabilidade. Senão, vejamos: Vamos fechar a igreja católica por causa dos casos de pedofilia? Vamos fechar as igrejas místicas porque um grupo de loucos se matou achando que o fim do mundo estava próximo? Vamos fechar as igrejas evangélicas, porque muitas só pensam em dinheiro e contradizem os ensinamentos de Quem supostamente eles deveriam estar seguindo? Vamos fechar as igrejas afro-brasileiras porque um lunático espetou agulhas numa criança se dizendo macumbeiro? Vamos fechar o budismo porque um assassino matou uma monja budista em alto paraíso? Que tal?

Então não sejamos hipócritas, senhor acid, porque gente de má índole está em toda parte, as instituições e os ritos não são necessariamente os responsáveis por esse tipo de desequilíbrio. Se esse louco que matou o Glauco tem todos os atributos que o senhor fala, então ele deve ser responsabilizado, não adianta tentar colocar a culpa na ayahuasca, coisa que ele nem estava utilizando. Outras pessoas que mataram outros ícones também se diziam Jesus Cristo. Porque o senhor não culpa o cristianismo então? Não dá, NE?

Vamos pegar o perfil desse jovem. Qual a boa pra quem já "curtiu" todo tipo de coisa, e está a fim de experimentar algo diferente? Tem gente que procura até dolorosos ritos de iniciação indígenas, onde se injeta veneno de sapo no braço, só pra dar "uma limpada" (totalmente fora do contexto, como nas matas virgens de Copacabana). Por que não experimentar a Ayahuasca?

Saiba, senhor acid, que o senhor é uma pessoa muito ingênua (risos). O senhor sabia que dois dos maiores laboratórios do mundo estavam tentando disputar a patente dos princípios químicos, da molécula da vacina do sapo que o senhor está mencionando? A própria revista Isto É noticiou esse fato. E por que motivo o senhor acha que duas das maiores corporações farmacêuticas do mundo estariam interessadas nesta substância? Faz-me rir, acid. Sabia que tentaram registrar a patente dos componentes da ayahuasca, e que isso só foi revogado em favor dos direitos dos povos da floresta depois de anos de batalha judicial em tribunais internacionais? Que devíamos estar felicíssimos de ter esse patrimônio, nosso? Agora, a utilização da ayahuasca e da vacina do sapo estão sendo sim trazidas ao convívio mais urbano. Ao invés de apenas repetir o repetitório deste seu blábláblá. Seria muito melhor a sociedade estar unida, estudando a extensão, a profundidade do trabalho com ayahuasca, procurando o melhor pra todos, ao invés deste papel melindroso e inútil, visto que a liberação da ayahuasca não será revogada. E, PS: Copacabana já foi uma mata virgem. E se não é mais, talvez o senhor consiga demonstrar, por esta sua linha de raciocínio que a culpa é da ayahuasca... (risos).

Mas numa coisa o senhor tem razão, e é algo que vejo de positivo nas notícias que assustam as pessoas: é essa busca desordenada e inconseqüente de ritos que envolvem o chá. A pessoa viu na novela e quer ir provar, ou o amigo falou que foi, já tem uma caravana querendo ir... E esses dirigentes irresponsáveis, que supostamente dão cursos de “mestre” e “padrinho”. E a coisa realmente não pode ser assim. Para se evitar isso, está em tramitação a regulação dos centros. Se informe! Os centros responsáveis têm que fazer uma entrevista, uma triagem, saber se a pessoas está buscando o caminho espiritual, porque se não estiver, não acho que é o caso de servir um copo de chá a uma pessoa que não sabe o que quer.

E isso não é culpa do Daime, nem da Ayahuasca, nem das tradições, que eram MUITO mais fechadas no seu início, não só pelo aspecto geográfico (nasceu nas florestas do Acre, próximo de onde eu morei por 2 anos, aliás), como pelo contexto.

O budismo tibetano, hoje o maior do mundo, também foi extremamente fechado, e só se difundiu com a saída dos lamas do Tibete por conta da invasão chinesa. Um imenso mal, que nesse sentido causou um bem ao mundo. O fato de ele ter saído de sua “pátria” não o tornou nem ruim, nem impossível de ser praticado no ocidente. Com a ayahuasca a mesma coisa. Ela não está mais somente na floresta e nas mãos dos índios, mas isso não impede que ela seja bem utilizada e que novos ritos se criem em torno deste conhecimento. Deixe de ser preconceituoso, senhor acid.

Você não saía do Shopping pra ir tomar Ayahuasca, e depois de 4 horas pegava o carro pra voltar pra dormir em casa, não. Ou enfrentava um dia de viagem de carro por dentro de estradas de barro e lama, ou ia de barco (na verdade uma frágil canoa com motor), no meio de rios cheios de jacaré (e não estou sendo dramático, eles simplesmente existem por lá até hoje). Acredito que só isso já separava o verdadeiro buscador dos aventureiros de fim-de-semana. O problema é o CONTEXTO. A Ayahuasca virou uma bebida urbana, tomada dentro de um contexto pseudo-xamânico! Como lidar com o inconsciente das pessoas quando o hino, totalmente deslocado da realidade social, não funciona com os "turistas"? Como assumir essa responsabilidade? Vamos dizer que a bebida seja DEUS, como diz a tradição. Será que YaVeH é pra TODOS? Allah é pra TODOS? O Deus cristão toca o budista da mesma forma que Buda? Então por que a Ayahuasca deve ser pra TODOS, indiscriminadamente?

É muito atrevimento o senhor se pretender conhecedor de quem é “verdadeiro buscador”. Muitas pessoas que beberam ayahuasca nas florestas há décadas atrás não eram verdadeiros buscadores, assim como muita gente nas cidades hoje podem ser verdadeiros buscadores. Senão porque motivo teríamos templos nas cidades? Pra enfeitar o planeta? Acho que a coisa é um pouco mais complexa do que isso. Ora, quer dizer então que nas cidades não haveriam verdadeiros buscadores? Mas de onde se tiram esses conceitos? Dizer que o contexto é pseudo-xamânico só denota seu pouco conhecimento dos grupos e da extensão dos trabalhos com este chá nos dias de hoje. Os hinos não funcionam com os turistas? Mas além de tudo o senhor está sendo vil e mal intencionado nessa afirmação. Vamos parar de fazer mantras então, já que a maioria não sabe sânscrito! E que tradição diz que a bebida é deus? Só se for a sua, pois as dezenas de centros que conheço não dizem isso. E por incrível que pareça, meu irmão, sim, Yaveh é para todos, Allah é para todos, o Deus cristão é para todos, Buda é para todos. A fonte original destas emanações divinas é a mesma, no fim das contas. A energia essencial da divindade é para todos, somente a forma difere. Mestre Gabriel, fundador da União do Vegetal explica isso: “A ayahuasca é para todos, mas nem todos são para a ayahuasca”. E isso não é limitando quem pode utilizar, mas compreendendo que nem toda forma serve a todo caminhante. Não sei se o senhor será capaz de entender o que quero dizer. Como nos ensina Dalai Lama, existe uma diferença entre religião e espiritualidade. Estude isso que o senhor entenderá.

Tem gente que morre se tomar Aspirina. Pra maioria, funciona. Cafeína pode causar dor-de-cabeça em muitos. Em outros, tira. Certas drogas (farmacêuticas ou não) são indicadas pra uns casos, e pra outros não. Durante a miração, os compostos presentes na Ayahuasca, como o DMT (que as pessoas se recusam - não sei porque - a chamar de droga) abrem as portas do inconsciente, e daí advem a importância dos hinos, que são guias para manter a pessoa numa certa vibração, num certo pensamento, pra que ela não se perca (e se afogue) neste oceano que é o inconsciente. Infelizmente muita gente não consegue "nadar" adequadamente, e acaba sofrendo sequelas. O Psicanalista Transpessoal Lázaro Freire - que, como pesquisador, conhece os efeitos do Daime e de outros psicoativos - recebe vários casos de pacientes que sofreram de surto de pânico e bipolaridade após o uso da Ayahuasca. Por mais que digam que é "seguro", e tenha sido recentemente liberado pelo governo, não há NADA que seja 100% seguro pra TODOS. Nem avião, nem açúcar, caramba!

Sim, sim, Lázaro Freire. Eu tenho escrito artigos sobre as coisas que ele escreve, e incrivelmente ele não os responde. Vou transcrever aqui uma coisa que escrevi num dos artigos pra ele, a respeito desse afogamento no inconsciente. “A consciência, quando evolui, se expande. Quem negar isso nega o cerne das principais escolas sobre esta terra. Então, essa forma subliminar de colocar nas pessoas medos tenebrosos do inconsciente é também uma forma velada de inibição da expansão da consciência. Não estou aqui me referindo ao uso de plantas de poder, mas a certas táticas de dominância de mentes que, por temerem, não dão nenhum passo no sentido de re-conhecer outras nuances de realidade, de percepção do que chamamos "mundo consciente". Por conta disso grande parte de nossa humanidade passa a vida trabalhando e estudando e se casando e mantendo estruturas, mas ao final, não sabe a que veio. Assim passam a ver o mundo com o foco na racionalidade, forçando a diminuição de nossa capacidade natural de conceber a existência de planos sutis através da intuição. Esse processo opressivo e maciço de imposição de "uma" realidade é de certo modo, discutido na boa psicologia, mas bem esclarecido por Jane Roberts, quando fala da descoberta do inconsciente, e por Dom Juan Matus, Xamã Tolteca, quando fala sobre o processo de nos tornarmos "sócios" de uma visão específica, quando passamos da infância à vida adulta, aceitando os pressupostos do mundo como é visto pela maioria O intuitivo, na grande maioria das vezes, é superior ao racional. Ele pode conter todo o racional, e ainda ser maior do que este. Podemos traduzir a intuição para filtros racionais, mas estes só são capazes de explicar parte das coisas, uma pequena parte. Assim como, até a própria física moderna corrobora, nosso mundo "real" ainda é uma incógnita (vide colisor de hádrons - LHC). Portanto, nosso mundo consciente, o que chamamos de coisas que estão disponíveis através de formas reconhecíveis na consciência, são, já se sabe pela mais fina ciência (e pelos mais antigos filósofos - vide Platão), só a ponta do iceberg. Para não me ater aos enteógenos, a cinqüenta anos atrás, falar em projeciologia seria, para o grande público, motivo de riso e piada. Hoje, já muitos aceitam o tema como parte de nosso campo sutil, coisas que não vemos com os olhos físicos, mas, mesmo assim, estão, em alguma freqüência de energia.

Eu não conheço trabalhos com ayahuasca que neguem a consciência, mas se o fazem, a meu ver, erram. A consciência em desenvolvimento é o autoconhecimento em ação. E como já dizia o oráculo de delfos: "Conhece-te a ti mesmo, e conhecerás os deuses e o universo", um princípio hermético, como sabem. Com ou sem a ingestão de qualquer substância, a verdadeira evolução espiritual se dará com o aprendiz seguindo a prática correta, a prática do bem, da compaixão, do amor. Jesus revelou isso, Krishna, através de Bhakti, também, Buda, através da plenitude compassiva, também”.

O senhor Lázaro Freire conhece os efeitos do daime sob o ponto de vista psicanalítico e químico, mas passa muito longe de conhecer o que de fato é o daime. Uma pessoa pode saber tudo sobre saltar de pára-quedas, pode parecer uma verdadeira autoridade no assunto, sem ter saltado. Uma pessoa pode saber tudo sobre uma língua morta, mas não a fala. Uma pessoa pode saber muito sobre os mistérios do Egito, pode até ler hieróglifos, mas isso não significa o mesmo que passar os ritos iniciáticos com os sacerdotes egípcios. O trabalho com a ayahuasca é um continuum, porque não se trata de milagre, e sim de um aprofundamento em nosso autoconhecimento. O senhor Lázaro fala demais e de fato, em minha opinião, tem um conhecimento bem tendencioso, o que o limita muito. Bem, pra uma pessoa que em sua própria página diz que é considerado uma “enciclopédia espiritual”, e que divide seu vasto conhecimento com os outros pra não se tornar um “obeso” de conhecimento, não me deixa alternativa senão rir. O que acho é que muitos terapeutas estão na verdade tentando se promover com estas distorções à respeito do uso da ayahuasca, e estão muito sensibilizados pelo fato de que a maioria das pessoas que usam ayahuasca não precisa deles. Existem em nossa sociedade todo tipo de profissionais e gente de bem utilizando a ayahuasca, e isso não será facilmente desmentido, simplesmente porque é a mais pura verdade que a grande maioria dos usuários do chá estão bem, e muito! Por mais que queiram fazer parecer que todos os membros destes trabalhos são lunáticos e desnorteados. Graças a Deus, e não aos psicanalistas, eles não são desnorteados, pelo contrário, vêem muito bem seu norte, seu rumo. O senhor Lázaro publicou em sua página artigo da Veja que diz que estas igrejas não são cristãs, porque Jesus só falou em vinho e em água... Bem , Jesus também não falou em projeção astral, o tema de sua página na web, nem por isso as pessoas que fazem projeção astral devem se sentir anticristãs. Se o senhor está atrás de algo 100% seguro, não poderá nem mesmo ir a padaria. O caminho da ayahuasca é bastante difícil, mas segurança, nesses termos, tem muitas conotações. As cem pessoas que estavam debaixo do teto daquela igreja evangélica que desabou, matando muita gente, deviam acreditar estarem bem seguras...

Fica então o alerta de Lázaro, que já falava dos perigos de se administrar antidepressivos, inibidores da MAO e serotoninérgicos (tudo o que tem na Ayahuasca) a pacientes bipolares (transtorno que acomete cerca de 1,6% da população, hoje em dia) há muito, muito tempo: "Quem pode tomar, não precisa. Quem precisa tomar, não pode."

E continua: De hoje em diante, lembrem-se: está demonstrado que na inocente roda de "chá-manismo" pode haver algum psicótico com potencial assassino e passagem na polícia por drogas, que está se enchendo de alucinógenos na sua frente, e que pode a qualquer momento se declarar Jesus e começar a atirar... Se por um lado muita gente boa procura essa bebida na esperança de um "atalho" consciencial, ao mesmo tempo praticamente TODOS os atuais ou ex "doidões" e drogados do país também cultuam - por motivos óbvios - essa nova forma de religião "baseada" em cogumelos ou chás. Além de muitos psicóticos e borderlines que, claro, se sentem mais à vontade em um ambiente de fantasias e "mirações" - muitos suspendem medicamentos "trocando-os" pela "cura" do daime. Reparem o vocabulário dos tipos que frequentam algumas casas: no meio de gente inocente e com boa intenção, essa turma barra-pesada e/ou psicodélica provavelmente também estará lá, trocando seu alucinógeno por outro mais barato, legal, potente e pretensamente espiritual. Qual o "doidão" que nunca experimentou Daime nem ao menos uma vez? Tem certeza de que conhece o passado, histórico policial, psiquiátrico e de drogas de todos da roda em que você foi passar 8 horas alucinado e indefeso?

Mais uma vez senhor Lázaro se perde, porque o psicótico assassino NÃO estava usando ayahuasca. Por mais que o senhor queira insistir neste ponto, só te acreditará quem não lê as notícias. E tem mais, muitos centros aceitam receber ex detentos ou pessoas com problemas de drogas, não é pelo precinho da consulta não senhor lázaro, porque muitos e muitos centros tratam destas pessoas, onde muitas delas não têm um centavo. Tratam porque também são centros de CARIDADE, o que muitos médicos não sabem o que quer dizer.

Sobre a bebida ser um atalho, repito ao senhor algo que já lhe disse e o senhor convenientemente não menciona: “Outro ponto importante levantado: Quem acha que a ingestão de substancias é a tábua de salvação, um atalho espiritual, não entendeu o que é de fato. Eu mesmo, em começo de caminho, ouvi muito essa conversa, que o vegetal é um atalho espiritual que economiza ao adepto anos de meditação. Minha visão é de que isso é incorreto. Primeiro, acredito que atalho espiritual simplesmente não existe. Gente, isso não existe mesmo. Nem chá, nem mantras, nem nada pode nos fazer avançar no caminho, a não ser o nosso próprio avanço interior. O que existe sim são veículos, veículos auxiliares. Para uns, é a meditação búdica, para outros, as práticas vaishnavas ou shivaítas, para outros o xamanismo, para outros é o caminho do Cristo, para outros a ayahuasca. Cada uma dessas coisas vem para nos conduzir ao caminho (que ao final, se convergem no mesmo caminho, o da Luz)”.

Sobre sua afirmação de qual o doidão que não experimentou a ayahuasca, e outras afirmações, o senhor, senhor lázaro, ouvirá falar de mim, juridicamente.

E o meu recado aos daimistas é: se preservem enquanto religião. Valorizem a doutrina, a transformação interna. Deixem o chá para pessoas um nível mais avançado de entendimento e COMPROMETIMENTO. A ICAR não dá seu néctar espiritual de mão beijada pra qualquer visitante de missa. O judaísmo também não. O islamismo, menos ainda. Me parece uma fórmula testada e aprovada ao longo de milênios, pra evitar a deturpação e banalização, e filtrar melhor seus integrantes. Fica a dicA.

Pois a valorização interna é altamente ressaltada no caminho com ayahuasca. A transformação interna, ou reforma íntima, como muitos chamam, é uma premissa, senhor acid. Então, meu recado para o senhor é que fale menos e faça mais pelo seu próximo. Baixe sua bola um pouquinho, porque o senhor não está em condição de avaliar um trabalho de grande extensão como a ayahuasca propõe, pelo fato de que o senhor já está convencido, de si mesmo. E mesmo quem bebe ayahuasca, não recebe o conhecimento legítimo se não merecer, se não procurar por si mesmo melhorar, como ser humano, como ser espiritual. Uma formula testada em milênios pra evitar a deturpação e a banalização, é o discernimento, senhor acid. Use-o, pois deus deu isto a vc e a mim, e a todos os seres desta terra. Fica a dica.


André Garcia.
Dirigente da Ordem dos Jardineiros – Brasília DF.

Um comentário:

Anonymous disse...

"Drogas como o LSD, ... ou a maconha causam dependência química, física, ... causam danos imensos, alimentam um mundo de violência e crimes."
Nao è verdade por maconha e LSD !
Tambem peyote, ayahuasca, cogumelos e iboga pode causar dependência psicológica.

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